1.
Práticas
de Manejo
O umbu é considerado um símbolo de resistência
cultural pelos agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais da
região semiárida, principalmente pelo significado sagrado e por reservar água
em suas raízes em períodos de seca. A prática de coleta dos frutos é uma
atividade cultural passada de geração em geração e começa desde a infância por
influência de pais e avós. Os seus frutos são muito utilizados nas áreas rurais
do Nordeste como base alimentar e econômica, complementando a renda geralmente gerada
com o cultivo de culturas de sequeiro, como milho, feijão e mandioca, e a
criação de caprinos e ovinos. Os primeiros moradores do sertão, os índios,
utilizavam as “batatas” dos umbuzeiros para curar doenças e os frutos para
alimentar-se. As “batatas” muitas vezes são utilizadas pelos vaqueiros do
sertão para matar a sede nas suas jornadas na Caatinga. Elas possuem
propriedades medicinais e são muito usadas na medicina caseira para o
tratamento de diarreias e no controle de verminose (BARRETO e CASTRO, 2010).
No dia 01 de Fevereiro
de 2013 foi realizada capacitação na comunidade de Brejo de São Caetano, no
município de Manga, com o objetivo de compartilhar com o público acerca da
coleta sustentável dos frutos do umbu, além de boas práticas de manejo, contribuindo
para o extrativismo sustentável, aliando geração de renda à conservação da
Caatinga.
Ao longo da capacitação
buscamos dar informações àquelas pessoas que tem boa oferta de frutos na sua
comunidade e coletam em escala muito pequena, além de não terem um plano de
manejo adequado. Buscamos também dar subsídios aos que desejam fazer o plantio
e produzir suas mudas, aumentando e repondo as plantas em suas áreas de coleta,
quintais, áreas de cultura, etc.
Demos inicio à
capacitação com a apresentação das pessoas presentes, onde participaram
agricultores e técnicos, de diversas localidades, como Miravânia, São João das
Missões, Manga, Chapada Gaúcha, entre outras. Na apresentação os participantes
puderam relatar seus anseios, o que esperam da capacitação, e quais os seus
conhecimentos a respeito do manejo e coleta do umbu.
O conteúdo abordado na
capacitação buscou dar subsídios aos agricultores, técnicos e extrativistas
para as boas práticas de manejo do umbu até a organização da comercialização.
Descrevo a seguir
algumas ações e pontos importantes debatidos ou abordados durante a
Capacitação:
De início foi feita uma
abordagem sobre a Caatinga, ambiente de ocorrência do umbuzeiro. Falamos sobre
suas peculiaridades, como o longo período de seca e das alternativas de
convivência com a seca, tendo o extrativismo como uma alternativa rentável.
Fizemos a
caracterização do umbuzeiro, buscando conhecer a planta e em que condições de
temperatura, umidade e de solo se desenvolve, para definirmos estratégias de manejo
do solo, da planta e de todo o ambiente, além de conhecer o período de coleta
dos frutos e quando fazer as podas na planta. O conhecimento da planta também
dá subsídios para se calcular a capacidade de produção ou rendimento de frutos,
a época de floração e de frutificação (ciclo da cultura) e a época de plantio
ou produção de mudas.
Foi feita uma prática
de seleção e de quebra de dormência das sementes, pelo método do corte
inclinado na parte distal do caroço, além de citarmos outros métodos de quebra
de dormência. Falamos ainda do preparo do substrato para a produção das mudas.
Foram demonstrados os
métodos de propagação das plantas, a seminífera, a propagação por estaquia e
por enxertia, onde fizemos uma prática de seleção dos enxertos e dos métodos de
corte do enxerto e da porta enxerto, como por exemplo, a garfagem. Apresentamos
o calendário de produção do umbu na região da Bahia, praticamente o mesmo aqui
no Norte de Minas, onde tem oferta do fruto. Com o calendário pudemos planejar
junto aos participantes da capacitação as épocas de coleta, de podas e de
produção das mudas.
Falamos a respeitos das
pragas e doenças ocorrentes nas plantas e dos métodos de prevenção das mesmas,
e que o melhor controle de pragas e doenças é a manutenção do solo saudável,
com vida, e a manutenção da biodiversidade, mas podem ser usados alguns
defensivos naturais quando ocorrerem danos causados por pragas. Outro fator
favorecido pela manutenção da biodiversidade é a preservação das espécies
responsáveis pela dispersão das sementes e pela manutenção das plantas às
futuras gerações.
Na parte de coleta e
transporte foram falados dos principais cuidados com as plantas e com os frutos
durante todo o processo e das boas práticas de manejo. Citou-se passo a passo,
os métodos de coleta sustentável dos frutos, os cuidados para não danificar as
plantas e os frutos colhidos, a seleção dos frutos e descarte dos frutos
possivelmente vetores de doenças e ainda a importância de se deixar frutos na
área para a alimentação dos animais dispersores de sementes. Falamos a respeito
dos utensílios adequados à coleta dos frutos, do armazenamento e da importância
de se coletar os frutos no grau ou ponto certo de maturação, pelo fato de serem
perecíveis e de comprometer a rentabilidade com o produto.
Apesar de ainda ser
pouco praticada e da capacitação ter maior ênfase no extrativismo sustentável,
abordamos a respeito do plantio comercial que vem sendo estudado e variedades
vêm sendo pesquisadas. Fizemos os cálculos de custos de implantação de 01 hectare
e da produção de frutos por hectare. Ressaltamos a importância da preservação
das áreas de Caatinga, onde cerca de 50% já foram desmatadas e que a cultura do
umbu vem sendo ameaçada nessas áreas pela expansão da pecuária e das
monoculturas, principalmente na região norte de Minas Gerais. Foram citadas as
práticas de manejo de solo, que são alternativas de convivência com a seca e
que visam diminuir a perda de solo, o assoreamento de cursos d’agua, além de
manter a umidade por mais tempo no solo. Foi realizada uma prática de curva de
nível, com o uso do “pé de galinha”, confeccionado durante a capacitação.
2.
Beneficiamento
e Aproveitamento sustentável do Fruto
O
processo de agroindustrialização de frutas é uma forma de agregar valor aos
produtos, prolongar a vida de prateleira e o mais importante, ofertar um
produto durante a sua entressafra. Dessa forma, com o beneficiamento do umbu, as
comunidades da Caatinga passarão a ter mais uma fonte de oportunidade e renda
para o fortalecimento econômico e comercial, pois o Umbu apresenta um alto
poder de aceitação pelo sabor diferente e muito nutritivo. Para garantir a
oferta desse fruto durante um período de entressafra, foi realizado um
treinamento aos agricultores extrativistas que trabalham com a coleta e a
comercialização do umbu. A capacitação no âmbito das boas práticas de
fabricação e técnicas de beneficiamento, devido imensa quantidade de produtos
que podem ser desenvolvidos a base desse fruto, foi realizada uma prática de
processamento de doces e geleias, com foco na qualidade sanitária e
nutricional.
Com
o Umbu pode-se produzir muitos alimentos, como: geleias, doces, polpa
congelada, sucos, sorvetes e picolés, além da famosa umbuzada que tem grande
aceitação pelos consumidores principalmente moradores da região nordeste, em
especial no estado da Bahia. Durante a capacitação foram demonstradas as técnicas
para a produção da geleia e também a produção de doce em corte, tais como:
·
Descrição detalhada do fluxograma de
processamento para doces e geleias, bem como cuidados higiênicos sanitários
desde a coleta do fruto até a entrega do produto acabado aos consumidores
·
Demostrou também as técnicas para a
identificação da pectina dos frutos com a utilização de álcool. Pois esse
polissacarídeo é um dos componentes principais na fabricação de doces e
principalmente das geleias de frutas, devido proporcionar a geleificação da
mistura, garantindo assim a consistência de gel, ou seja, o fruto que não
apresentar esse componente não permite a fabricação de geleias
·
Apresentou tópicos em rotulagem
obrigatória, para os produtos em questão, além de questões relacionadas aos aspectos
de apresentação visual dos produtos
·
Foram demonstrados os principais riscos de
acidentes durante a manipulação dos alimentos, e dessa forma apresentados os
Equipamentos de Segurança Individual e coletiva que são de grande utilidade
para os manipuladores
·
Foram abordados os principais tópicos
envolvendo as Boas Práticas de Fabricação em todas as etapas do processamento,
frisando os cuidados com a higiene pessoal, do ambiente e instalações, bem
como, esclarecendo todos os perigos que podem contaminar os alimentos, durante
a manipulação, armazenamento distribuição e o próprio consumo
·
Realizou uma atividade em conjunto para
organizar as informações e construir uma planilha para determinar o custo de
produção do doce e da geleia fabricados durante o treinamento.
Por fim, foram apresentadas questões a respeito do comércio
justo, orgânico e a importância das pessoas se organizarem para negociar e
melhorar os preços, conseguirem estruturas de beneficiamento de produtos na
própria comunidade e estarem se capacitando sobre as boas práticas de produção
e beneficiamento dos produtos, além da comercialização, agregando valor aos
produtos e melhorando a renda da coleta dos frutos. Falamos a respeito da
importância dos intercâmbios com outras organizações, associações e
cooperativas e da troca de experiências e dos desafios que os extrativistas têm
enfrentado não só na coleta do umbu como de outros frutos. A expansão das áreas
de monocultura e o consequente desmatamento de grandes áreas, o extrativismo
predatório, a proibição do acesso às áreas de coleta pelos proprietários e a
dificuldade de acesso são outros desafios enfrentados e o enfrentamento a esses
desafios pode ser realizado através da organização dos grupos nas comunidades.
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