terça-feira, 16 de abril de 2013

Curso de Boas Práticas de Manejo e Fabricação para Produção Sustentável de Coquinho Azedo em Chapada Gaúcha/MG

A Cooperativa Regional de Produtores Agrissilviextrativistas Sertão Veredas vem aqui divulgar os resultados do curso de 'Boas práticas de manejo e fabricação para produção sustentável do coquinho azedo (Butia capitata)', realizado na cidade de Chapada Gaúcha-MG, ocorrido nos dias 14 e 15 de dezembro de 2012. Este curso faz parte das atividades previstas no Projeto 'Extrativismo Vegetal Sustentável - Mosaico Sertão Veredas - Peruaçu', financiado através do Acordo de Cooperação do Fundo Socioambiental Caixa  nº: 0007.007/201.cerrado 


           Nos cerrados brasileiros, o coquinho-azedo (Butia capitata (Martius) Beccari), também conhecido como coco-cabeçudo, butiá, ouricuri e coco-babão, é uma palmeira que se destaca pelo intenso uso na alimentação regional. Os frutos dessa espécie são utilizados para o consumo in natura, no preparo de sucos, de sorvetes e de picolés. Segundo informações pessoais do diretor da maior cooperativa da região do Norte de Minas Gerais (Cooperativa Agroextrativista Grande Sertão), que trabalha com 42 comunidades rurais de pequenos agricultores, processando frutíferas nativas e exóticas, a polpa de coquinho-azedo é a mais procurada e comercializada na região, sendo que, muitas vezes, não se consegue atender à demanda, por falta de matéria-prima.
O Coquinho Azedo possui caule típico de palmeiras, solitário, denominado estipe, que pode alcançar até 4 metros de altura, resistente, medula central (esponjosa), envolvida por um anel de proteção, fibroso, resistente, anexo ao tecido vascular, constituído pelo xilema e pelo floema, sendo que não possui câmbio. Possui, em sua região apical, um broto, também conhecido como gema apical, no qual se forma um meristema envolto por bainhas de folhas, denominadas palmitos, que em muitas espécies são comestíveis, o que não é o caso dessa. As suas folhas são do tipo pinadas e arqueadas de coloração verde-acinzentada, distribuídas no topo do caule de maneira espiralada, com folíolos compridos, estreitos, lanceolados e alternos. Caracteriza-se com bainha e pecíolo indistintos, com margens providas de fibras achatadas.
As inflorescências de Butia capitata são semelhantes a outras espécies de Arecaceae, sendo do tipo paniculada, também conhecida como cacho, formada pelo pedúnculo (ráquis), espigas (ráquilas) e flores amarelas protegidas por brácteas que se abrem naturalmente. As flores são unissexuadas na mesma ráquila, apresentando, principalmente, flores femininas no terço inicial das ráquilas. Quase sempre, as flores femininas são ladeadas por duas flores masculinas, sendo que essas predominam nos dois terços distais das ráquilas.
O fruto é uma drupa oval e comestível, formada por epicarpo amarelado ou avermelhado (arroxeado), mesocarpo carnoso e fibroso e endocarpo duro e denso com três poros, sendo funcional apenas a 16 quantidade de poros semelhante à quantidade de sementes. Cada fruto pode conter de uma a três sementes. A sua maturação se inicia a partir das extremidades das ráquilas de forma gradativa, em B. odorata. Porém pouco se conhece sobre os eventos de florescimento, de frutificação e de multiplicação da B. capitata. Cabe ressaltar que pode ser determinado, ainda, como semente do coquinho azedo não somente o embrião com o endosperma, mas também aquele envolvido pelo endocarpo, também denominado putâmen.
Fruto - Coquinho azedo (Butia capitata)


REALIZAÇÃO DA OFICINA

        Ao realizarmos a capacitação buscamos dar informações àquelas pessoas que tem boa oferta de frutos na sua comunidade e coletam em escala muito pequena, além de não terem um plano de manejo adequado. Buscamos também dar subsídios aos que desejam fazer o plantio e produzir suas mudas, aumentando e repondo as plantas em suas áreas de coleta, quintais, áreas de cultura, etc.
 Iniciamos a capacitação com a apresentação das pessoas, onde participaram agricultores e técnicos. Na apresentação os participantes puderam relatar quais as suas duvidas e o que esperam da capacitação, e quais os seus conhecimentos a respeito do manejo e coleta do Coquinho Azedo.
Trabalhamos um conteúdo abordando informações que contemplasse agricultores, técnicos e extrativistas para as boas práticas de manejo do Coquinho Azedo até a comercialização. Falamos das características da planta como também descrevemos os principais ambientes de ocorrência da mesma, essa ação teve como objetivo entendermos como devemos preservar as áreas que podemos ter a planta e consequentemente realizar o extrativismo.
Buscamos junto aos participantes entender o ciclo produtivo da planta, na oportunidade explicamos como deve ser feito o extrativismo da planta em questão, desde a limpeza da área ate a coleta dos frutos, neste momento esclarecemos aos participantes os benefícios do uso dos EPIs.




Num exercício bem prático descrevemos os processos que devemos seguir para produção de mudas:
Primeiro, estar dentro das normas da fiscalização ambiental competente;
Segundo, seleção das sementes, que deve ser levado em consideração a qualidade da planta mãe, que é quem vai dar as características genéticas para a planta filha;
Terceiro preparo do substrato, que no caso deve se fazer parecer o máximo com o solo do local de ocorrência da planta;
Quarto quebra de dormência das sementes que deve ser feito de maneira bem mecânica, ou seja, romper o mesocarpo do fruto para facilitar o desenvolvimento do embrião.
A planta nativa também passa por ataques de pragas e doenças, mesmo sendo equilibrado, uma vez que o meio natural vem sofrendo com as nossas ações esse fato tem aumentado, neste momento esclarecemos aos participantes algumas medidas para minimizar o mesmo, dentre elas o manejo correto das espécies do extrativismo como também a conservação de espécies não utilizadas para esse fim, existe ainda a figura que chamamos de predador, muitas vezes é tido como um problema, porem isso ocorre quando olhamos com um olhar econômico, se olharmos com uma visão de preservação vamos entender o porque da existência dele, no caso do Coquinho um predador importante é o que conhecemos no Norte de Minas como cachorro do mato, esse animal dissemina a semente e com isso ajuda na perpetuação da espécie.
Um fator de cunho ambiental é a coleta, pois se for intensa e sem manejo pode levar a extinção da espécie, quando relatamos esse assunto enfatizamos bastante a forma e quanto devemos coletar, na oportunidade os participantes esclareceram que eles já têm essa conscientização através de trabalhos da Cooperativa Sertão Veredas com outras espécies.
Dentro do processo do extrativismo um fator importe para se ter um bom produto é o transporte dos frutos, entendendo que no caso do Coquinho Azedo o principal produto é a polpa do fruto, o transporte deve ser feito com muito cuidado para não ter perda do produto.
  
PROCESSAMENTO
A polpa de Coquinho tem grande aceitação nos mercados e para atingir esses mercados é necessário que tenha boa qualidade nutricional e sanitária, mas para atingir esses objetivos, foram abordos todos os conceitos técnicos e científicos, direcionando as informações para a pequena escala de produção ou a agroindústria de pequeno porte, isso para garantir que esses trabalhos possam ser desenvolvidos pelas comunidades locais, que apesar de utilizar os recursos naturais do Cerrado como fonte de renda, ainda sim, não tem uma grande produção de frutos nativos em específico o Coquinho Azedo. Para a apresentação de todas as etapas do processamento de polpas de frutas, conforme legislação do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento utilizou-se a planta de processamento de frutas da Cooperativa Grande Sertão Veredas, uma vez que essa unidade fabril absorve a produção local de frutos do Cerrado.

Extrativistas selecionando os frutos adequados para a produção de polpa

Apresentou-se aos extrativistas as técnicas para se produzir uma Polpa de Fruta congelada de boa qualidade:
As boas práticas de colheita, visando o controle da qualidade do fruto ainda no campo, observando as questões de amadurecimento, além dos cuidados com as plantas de forma a evitar o extrativismo predatório;
Transporte e acondicionamento dos frutos em local adequado, para garantir a qualidade e integridade do fruto. Nesse ponto foram demostradas as questões relacionadas à organização dos frutos, para o acondicionamento foi sugerido à utilização de caixas de hortifrúti para facilitar o transporte, sempre frisando a importância da limpeza e higienização dessas estruturas primárias, considerando a etapa de recebimento dos frutos na indústria foi demostrado a necessidade da organização das caixas por nome de agricultores e por comunidades, para assim compor a formação dos lotes e ao mesmo tempo ter um melhor controle sobre a matéria prima recebida;
Foram trabalhadas com o grupo todas as questões relacionadas ao fluxograma de processamento além das Boas Práticas de Fabricação, demostrando todos os cuidados necessários para cada etapa, cuidados higiênicos com o ambiente, utensílios e todas as estruturas de apoio, além da higiene e hábitos pessoais dos manipuladores de frutas, essas questões são de suma importância visando à produção de uma polpa de fruta de boa qualidade, para atender tanto os mercados institucionais públicos e privados que são potenciais consumidores dos produtos do Cerrado. Ao finalizar as atividades percebeu-se um entusiasmo dos envolvidos para dar continuidade e também iniciar trabalhos tanto com a preservação e colheita, como também o beneficiamento e comercialização do Coquinho Azedo in natura e da polpa congelada.



Extrativistas exibem o produto da aula prática na Unidade de Beneficiamento da Coop. Sertão Veredas

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