Joel e Manoel, parceiros do Água Brasil, e Vinicius Pereira, técnico do programa na bacia
Joel Araújo Sirqueira é o técnico responsável pelo núcleo do Peruaçu no Projeto Extrativismo Vegetal Sustentável (PEVS), do Mosaico de Unidades de Conservação Sertão Veredas Peruaçu (MSVP). Um parceiro importante do Água Brasil na região, ele acaba de ser escolhido para coordenador geral do projeto que abrange, além do Peruaçu, os núcleos Pandeiros e o Sertão Veredas.
O técnico do Água Brasil na bacia do Peruaçu, Vinícius Pereira, fez a entrevista abaixo com Joel. Confira!
Quais são os desafios que você vê para a consolidação da cadeia do extrativismo no MVSP?
Além de ser fonte de renda de importância singular para muitas famílias, o extrativismo no Mosaico Sertão Veredas Peruaçu é também uma questão cultural, social e logicamente ambiental.
Os desafios são muitos e enormes, porém a vontade de superá-los é ainda maior em razão do projeto extrativismo vegetal sustentável, o qual já atuava como técnico, e agora assumo a coordenação como por parte do extrativista.
Praticamente todas as comunidades demandam estrutura básica para trabalhar seus produtos. Dentre os desafios, temos as estradas em condições ruins, que dificultam o escoamento da produção, o acesso à água de qualidade, além dos entraves burocráticos.
E quais são os caminhos para avançarmos nesta estruturação?
Muitos desses desafios serão resolvidos em breve graças à intervenção de nossa equipe em conjunto com uma rede de parceiros, sem os quais não conseguiríamos resultados satisfatórios.
Um exemplo, vamos adquirir equipamentos para a implantação de mini usinas de beneficiamento e unidades de recebimento dos produtos da sociobiodiversidade ainda neste ano.
Muitas ações previstas no PEVS-MSVP também compõe o escopo de outros projetos e programas, como o Água Brasil e o projeto Peruaçu. A ideia é juntar forças para otimizar recursos e alcançar resultados melhores.
A comercialização do excedente hoje é também um grande desafio. Acredito que teremos a solução nos programas governamentais, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), porém com foco também em eventos e feiras livres. O ideal seria a venda para alimentação escolar constantemente, aumentando a renda do extrativista e possibilitando uma alimentação saudável e de procedência confiável na escola. É lógico que ainda estamos longe do ideal, mais já podemos vislumbrar essa realidade bem próxima e vamos buscar concretizá-la.
Recordo-me do que ouvi em um de nossos eventos com comunidades agroextrativistas, que de fato nos faz refletir sobre a importância do nosso trabalho: “Antes a gente enxergava o Cerrado em pé como problema, pois nois precisava plantar roça, agora sabemos que dá pra fazer as duas coisas e que o Cerrado é nossa fonte de alimento e de renda, se não tiver cuidado com ele, não tem quem cuide de nois”.
Essas foram as palavras de um agricultor familiar e extrativista durante a avaliação do curso de capacitação em manejo e beneficiamento do Araticum (Annona Crassiflora). Isso nos faz mais fortes e nos traz a esperança por um meio rural em equilíbrio com o meio ambiente.
Como você vê o trabalho do Água Brasil e do projeto de extrativismo no Peruaçu?
Coincidentemente, as ações do Programa Água Brasil no Peruaçu tiveram início com o projeto extrativismo MSVP. Tivemos avanços significativos.
Tive a honra de acompanhar “o plantio das primeiras sementes” e, atualmente, já podemos observar que os efeitos superaram as projeções. A intenção agora é consolidar cada vez mais essa parceria e demais parcerias institucionais.
Tanto o trabalho de revitalização do rio Peruaçu quanto o fortalecimento da cadeia produtiva do extrativismo se tornaram muito mais que um trabalho, vejo hoje como uma missão, pois as comunidades envolvidas se entregaram aos propósitos e, com certeza, almejam resultados cada vez mais consistentes.
Por que temos que preservar os recursos hídricos da região?
Á preocupação com os recursos hídricos da região do Peruaçu é enorme devido à velocidade em que a água se torna indisponível para aquelas famílias, recordo que em 2006 corria água cristalina onde hoje é leito seco e buritizal sem vida nesse rio Peruaçu.
Sem água não se consegue também trabalhar com extrativismo, agricultura familiar… Impossibilita até mesmo que essas famílias tenham uma vida digna naquela região, por isso a confiança e a expectativa em nossas ações por parte de toda essa gente que acredita no Programa Água Brasil, no Projeto Extrativismo do MSVP, no Projeto Peruaçu e em outros projetos que foram construídos de forma conjunta entre as iniciativas que atuam no Peruaçu.
Com essas parcerias, vamos fortalecer associações no apoio à gestão de empreendimentos e no manejo de produtos florestais não madeireiros.
Mas não paramos por aí! A cada edital ou chamada pública, iremos nos mobilizar para buscar recursos, a tendência é que essa rede cresça cada vez mais para realizarmos mais ações e ações continuadas.